terça-feira, 30 de abril de 2013

Palavra transparente

Nem a angústia, nem a exaltação amorosa, nem a alegria ou o entusiasmo são estados poéticos em si, porque não existe o poético em si. São situações que, por seu próprio caráter extremo, fazem desabar o mundo e tudo o que nos rodeia, incluindo a morta linguagem cotidiana. Só nos resta então o silêncio ou a imagem. E essa imagem é uma criação, algo que não estava no sentimento original, algo que nós criamos para nomear o inominável e dizer o indizível. Por isso todo poema vive à custa de seu criador. Uma vez escrito o poema, aquilo que ele era antes do poema e que o levou à criação – isso, indizível: amor, alegria, angústia, tédio, nostalgia de outro estado, solidão, ira – se fundiu em imagem: foi nomeado e é poema, palavra transparente. 

PAZ, Octavio. O arco e a lira. Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário