segunda-feira, 15 de abril de 2013

João e Pedro

Não fazia muito tempo que se conheciam. Amizade recente – ou talvez nem amizade ainda –. Estavam construindo um barco na marcenaria do pai de João. Era uma réplica de caravela, cheia de detalhes; muito trabalhoso. 

O que os unia era esse amor por barcos. Se encontravam às tardes, depois do colégio. Construíam juntos.

Pedro falava entusiasmado sobre os barcos que já havia visto. João gostava de ouvir, seu corpo era todo alegria perto daquele recente amigo. 

Havia também uns silêncios partilhados de que João gostava muito. Era como se mergulhasse em algum lugar desconhecido. Um  prazer estranho.

Às vezes João sentia certa inquietação. Uma vontade de encostar o peito no peito do amigo. Ficar, ali, sentindo o coração. Aquela outra vida colada à sua. Tão diferente, tão igual. Não era pra nada, não: só pra sentir. Porque sentir era bom. Mas não ousava dizer, nem pedir. Talvez o amigo não compreendesse. Pensasse sabe lá que coisas. E João não queria perder aquela tão boa companhia, aquele tão recente amor. Que não era amor de amigo ou de homem ( ou menino) por outro, essas delimitações. Mas amor puro.

Um comentário:

  1. bonito... não sabia que você tinha voltado, saudade de passar por aqui!

    bj,
    joão

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