segunda-feira, 19 de março de 2012

a chave

Antônia tem um grande problema: nunca consegue se lembrar em que lugar largou a sua chave. Por isso todas as manhãs o seu ritual é: depois de tomar o café e escovar os dentes pela segunda vez: sair revirando a casa em busca da chave perdida. O mais engraçado (ou estranho) é que ela sempre acaba encontrando a chave no mesmo lugar — todos os dias —, mas nunca se lembra disso, depois.

Antônia acorda super cedo, mas está sempre atrasada pro trabalho; corre pra pegar o ônibus, mas sempre acaba perdendo. Ela dá duro o dia inteiro num escritório, no centro, como auxiliar administrativa: tira cópias, atende ao telefone, manda e-mails, coloca clipes nos potinhos de colocar clipes (quando os clipes acabam), entre outras coisas. Apesar do atraso pra chegar, ela é muito eficiente e prestativa.

Antônia mora sozinha numa kitnet. À noite, quando volta do escritório, gosta de comer batatas fritas (ou cachorro quente) e beber coca-cola em frente à tv. Assiste a todas as novelas e depois vai dormir sonhando com seu príncipe encantado. 

Nos domingos ela fica em casa, e não precisa se preocupar em procurar a sua chave — faz faxina na sua pequena casa e assiste filmes melodramáticos no dvd. Mas nesses dias acontece, de repente, de um pensamento começar a se desenrolar, em que Antônia, lentamente, investiga uma resposta, um significado pra essa vida. Mas domingo é sempre pouco, e ela tem que acordar cedo no dia seguinte. 

E eis que tudo recomeça na segunda e se repete terça, quarta, quinta, sexta e sábado: ela toma o seu café, e, logo depois de escovar os dentes (pela segunda vez), retoma sua grande questão: onde será que está a chave?



sexta-feira, 16 de março de 2012

a mente
certas vezes
é como um ônibus lotado
desses que andam em ruas
de más condições
onde há sempre uma criança que chora
ou alguém que ouve um funk
sem usar fones de ouvido
e você nunca tem certeza
se chegará vivo
ao seu destino

mas ao menos num ônibus
a gente sempre tem
a opção de descer