terça-feira, 5 de junho de 2012

Amor literal


Cada vez que amava uma mulher e não era correspondido, Amoroso sofria — com o corpo todo. Ele se despedaçava, perdia a cabeça. Chegava a passar meses inteiros sem conseguir sair de casa. E não era incomum que, nesse período, ao fazer-lhe uma visita, um amigo ou parente se deparasse com pedaços de seu corpo espalhados pelos cômodos da casa: um braço esquecido no sofá da sala ou uma perna num canto da cozinha, por exemplo.

Familiares e amigos tentavam em vão restituir-lhe a estrutura. Percorriam, incansáveis, os cômodos da casa à procura das partes do corpo de Amoroso. Mas a cabeça, a cabeça ninguém conseguia encontrar. Então era preciso esperar. Dar tempo ao tempo. Até que ele mesmo se recuperasse, se restituísse por inteiro e, enfim, colocasse a cabeça no lugar.

Mas depois de tantas vezes ter se feito em pedaços por motivos de amor, Amoroso tomou uma decisão: da próxima vez que fosse fisgado pelos encantos de uma mulher, não mais perderia tempo: trataria, imediatamente, de roubar-lhe o coração.

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