terça-feira, 27 de outubro de 2009

Como presente um olhar

Estava chegando o natal e eu, como toda criança, ansiava desesperadamente por presentes. Na casa vizinha a família costumava preparar um "natal para os carentes", em que doavam brinquedos às crianças. Nunca fui carente de brinquedos - sempre tive muitos -, mas como criança nunca perde uma oportunidade. Lá estava eu, na fila que se fez comprida na rua de minha casa. O suor a escorrer pelo rosto, a roupa amassada de tanto brincar. Não. Não havia nada que me distinguisse das outras. Tínhamos o mesmo sorriso ansioso de quem espera: Bola, boneca, um jogo de damas... Não importava o que. O importante era ter?
Enquanto a fila encurtava, ia crescendo no coração, dos meninos e meninas, uma esperança de alegria. Eu via passar o menino com seu carrinho de brinquedo: Olhar estrelado a reluzir em silêncio. Via a menina com a boneca nos braços a ensaiar maternidade: Doce sorriso a colorir o mundo. O presente a pulsar dentro do peito como vida soprada pra dentro.
Enfim chegara a minha vez. A moça olhou-me sorridente e disse: "Pra você eu tenho uma boneca". Estendeu-me o pequeno pacote. Senti a gota de suor escorrer para os lábios. O gosto salgado de vida. E o olhar da moça sobre mim... Carícia silenciosa dos olhos que vêem o outro.
Naquele momento eu não era mais uma criança com um presente: era um ser humano que nascia de um olhar de afago. O importante era ser... Ser visto.

3 comentários:

  1. bonito isso, camila.
    escrito bonito.

    parabéns.

    sempre bom voltar aqui.
    tô em maringá essa semana, participando de congresso =)

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  2. adorei seu blog
    visite omeu
    www.valterfigueira.blogspot.com
    um abraço

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  3. bonito mesmo. muito sensível. um poema.

    PS: essa tua lista de links tá crescendo, né.
    Não é facil, a minha não para de crescer.
    Há tanta coisa boa!
    :D

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