Quando criança costumava passar alguns domingos na casa da minha avó. Lá o dia escorria vagarosamente como a estender-se por bem mais que um. Naquela época eu era uma exploradora de quintais: Percorria os espaços como a não deixar um só cantinho a ser observado. Havia sempre muito o que fazer num quintal de vó. Ainda mais que a minha visão era para muito além das coisas. Uma árvore, por exemplo, poderia ser só uma árvore para um olhar comum e desabrigado de imaginação. Mas, para mim não. Era casa, picadeiro de circo, esconderijo secreto, ou mesmo um bom lugar para descansar...O meu pensamento era livre, como pássaro solto, para além do horizonte. E quando se consegue transpor os muros do real e criar outros mundos para visitar, a vida fica bem mais leve. Assim eu era: Livre, leve e solta. Mas o fato é que, naquele quintal em que eu tanto gostava de brincar, meu irmão criava passarinhos em gaiolas - prática da qual eu detestava. Nunca gostei de passarinhos aprisionados em gaiolas. Não achava justo: Eu com toda a minha liberdade de criança e eles ali, com seu canto triste saudoso de céu.
No entanto, meu pai sempre dizia que eles jamais sobreviveriam longe das grades: "Bicho criado em cativeiro desaprende a ser livre", dizia ele. É...Talvez tivesse razão. Mas eu não deixava de pensar que sempre poderia haver uma possibilidade de reaprender. Porque no fundo eu sabia que o ser dos pássaros era voando. E o meu irmão não compreendia que ali, dentro daquelas gaiolas, ele não tinha mais os pássaros que tanto admirava em voo livre: Sem poder voar deixaram de ser, passaram a só existir - Algo bem mais triste do que a morte.
Porém, num belo dia de domingo, logo após o almoço, as gaiolas foram encontradas vazias. Não. Não havia sido eu a soltá-los - Mesmo que ninguém tenha acreditado -. Como escaparam? Não sei. Mas naquele dia eu os admirei mais do que a todos. Pois vencer as grades e lutar pelo voo há de ser sempre árdua tarefa, e o único meio para existir plenamente, ou seremos apenas um canto triste por trás de grades invisíveis.
No entanto, meu pai sempre dizia que eles jamais sobreviveriam longe das grades: "Bicho criado em cativeiro desaprende a ser livre", dizia ele. É...Talvez tivesse razão. Mas eu não deixava de pensar que sempre poderia haver uma possibilidade de reaprender. Porque no fundo eu sabia que o ser dos pássaros era voando. E o meu irmão não compreendia que ali, dentro daquelas gaiolas, ele não tinha mais os pássaros que tanto admirava em voo livre: Sem poder voar deixaram de ser, passaram a só existir - Algo bem mais triste do que a morte.
Porém, num belo dia de domingo, logo após o almoço, as gaiolas foram encontradas vazias. Não. Não havia sido eu a soltá-los - Mesmo que ninguém tenha acreditado -. Como escaparam? Não sei. Mas naquele dia eu os admirei mais do que a todos. Pois vencer as grades e lutar pelo voo há de ser sempre árdua tarefa, e o único meio para existir plenamente, ou seremos apenas um canto triste por trás de grades invisíveis.